Realizou-se no passado dia 4 de março, em Oleiros, no auditório da Casa da Cultura, a sessão de esclarecimento “Hábitos de vida saudável: o alcoolismo e as toxicodependências”, promovida pelo Município de Oleiros. Perante um auditório repleto, esta revelou-se uma sessão bastante rica em conhecimentos, experiências e emoções. De Coimbra, mais precisamente, do Hospital Psiquiátrico Sobral Cid, veio um brilhante painel de oradoras, todas especialistas naquela unidade de psiquiatria e saúde mental, as quais através de toda a dinâmica e experiência demonstradas, cativaram a atenção de todos os presentes até ao final das intervenções.
A abrir a sessão, o presidente da Câmara, José Santos Marques, realçou o empenho das técnicas envolvidas na realização da iniciativa; deixou uma mensagem de estímulo e esperança a quem já sofreu ou sofre com as problemáticas em destaque e congratulou-se pela significativa participação da comunidade Oleirense que respondeu à chamada de uma forma muito positiva. Segundo o autarca, o Município de Oleiros está consciente da situação e não lhe é indiferente “é importante estarmos despertos para esta realidade, sabendo como melhor enfrentá-la”. A primeira intervenção coube à Dra. Célia Franco, médica psiquiatra, a qual abordou de uma forma muito esclarecedora a questão das drogas lícitas e ilícitas, entendidas como substâncias que têm efeito nocivo sobre a saúde das pessoas, nomeadamente através de um uso, que passando a fase de abuso, chega a dependência. Segundo a especialista, “a maior causa de doença e sofrimento em Portugal é o alcoolismo”. Já a segunda interveniente, Dra. Vera Raposo, da área da Psicologia, abordou a questão da recaída do doente, entendida como oportunidade de aprendizagem. Segundo a psicóloga, “é normal que aconteça no mínimo 3 vezes até a pessoa ser considerada abstinente (…) e na maioria dos casos ocorre devido à experiência de afetos negativos”. A última intervenção, por seu lado, esteve a cargo da Dra. Conceição Pascoal, assistente social, que referiu que “é fundamental saber onde está a fronteira que leva aos diferentes usos (…) esta é uma doença da qual ninguém está livre de sofrer, direta ou indiretamente”. Segundo a oradora, “a família é a primeira a aperceber-se e a sofrer com esta doença, sendo fundamental uma atitude mais saudável por parte da família e dos amigos”.
Durante a sessão, houve ainda lugar para a realização de um interessante debate de ideias, assim como para ouvir alguns testemunhos reais, na primeira pessoa, por parte de quem já viveu na pele o problema do alcoolismo. Foi ainda abordada a questão da prevenção primária “a família tem aqui um papel muito importante na análise da evolução do doente (…) Um processo acompanhado pela família é sempre mais fácil, não só para assumir o processo, mas também para cumprir o tratamento”. Ainda segundo as especialistas, “deve evitar-se ao máximo o isolamento das pessoas. Somos seres sociais, é impensável vivermos sozinhos senão perdíamos a nossa saúde mental”. A terminar, foi ainda referido que “este é um processo que envolve todos. Não é uma fatalidade, tudo pode mudar”.
No final, os presentes puderam ainda assistir à representação de um psicodrama, por parte de uma das organizadoras da iniciativa, Dra. Ana Luzia Martins, sendo esta uma das dinâmicas de grupo mais utilizada na área da psicoterapia. Em jeito de conclusão, constatou-se que este foi um debate de ideias bastante rico e inspirador para todos, nomeadamente para quem vive situações de dependência e também para aqueles cuja missão é ouvir, acompanhar, encaminhar e orientar os cidadãos que enfrentam estas problemáticas.