Nos dias 9 e 10 de novembro, precisamente 400 anos após a escritura da primeira carta pelo Padre António de Andrade (a 8 de novembro de 1624), o Município de Oleiros organizou o colóquio internacional “Um Oleirense no Tecto do Mundo”. A iniciativa, inserida no âmbito das comemorações dos quatro séculos do Descobrimento do Tibete, decorreu no Multiusos das Devesas Altas e contou com a moderação de Joaquim Magalhães de Castro – investigador da História da Expansão Portuguesa e grande conhecedor da figura, do feito e das expedições de Andrade.
O evento reuniu sete oradores, reconhecidos académicos e investigadores especializados na figura do padre jesuíta, que partilharam dados inéditos e pouco conhecidos pelo público.
Na abertura da sessão, o Presidente da Câmara Municipal de Oleiros, Miguel Marques, destacou o papel pioneiro de Andrade no contacto entre a Europa e o povo tibetano, considerando o feito comparável à descoberta do caminho marítimo para a Índia. “As suas duas primeiras cartas foram traduzidas em cinco línguas, o que reflete a importância do seu feito”, sublinhou. O autarca enfatizou ainda que a figura de António de Andrade simboliza a essência da comunidade oleirense: “resiliente e inquebrável perante as adversidades”.
Depois da visualização do filme promocional de Oleiros, que tem como protagonista António de Andrade, teve início o primeiro painel de oradores, composto por Marco Serote Roos, Maria de Deus Manso e António Trigueiros, SJ., que se debruçaram sobre aspetos como os antecedentes da missão de Andrade, as controvérsias relativamente à morte do padre jesuíta em Goa e as referências bibliográficas a esta figura histórica na documentação jesuíta romana.
Na envolvente do espaço foram expostas imagens fotográficas captadas por Magalhães de Castro na sua viagem pelos “Desertos de Neve” do Tibete, bem como objetos sobre a cultura tibetana e bibliografia alusiva à temática.
No segundo painel, Maria João Pereira Coutinho, Pedro Teixeira da Mota e António Graça de Abreu abordaram temáticas como as influências artísticas e culturais nas vivências de António de Andrade, os seus aspetos psicológicos e espirituais, bem como as referências feitas na obra de Aquilino Ribeiro.
No segundo dia, José Raimundo Noras abordou a necessidade da redescoberta da figura oleirense. Em jeito de conclusão, os intervenientes reuniram-se num último painel, juntamente com Inês Martins, Chefe da Divisão que engloba os setores da Cultura e do Turismo no Município de Oleiros, tendo sido abordada a pertinência e a importância de evocar Andrade nos tempos atuais, o seu legado e o papel de todos para que lhe seja dado o merecido destaque na História Universal. A componente diplomática, ecuménica, geográfica, antropológica, religiosa, cultural, científica ou espiritual que o feito de Andrade encerra, foram alguns dos aspetos realçados.
A compilação integral das cinco cartas escritas pelo jesuíta Oleirense, a criação de um centro interpretativo em torno da figura histórica ou a produção de uma longa-metragem dedicada a este herói dos Descobrimentos, foram algumas das propostas deixadas no último dia pelos investigadores presentes. De registar que este encontro permitiu que fosse apresentada publicamente a existência de um manuscrito da autoria de Andrade, bem como a conexão entre alguns aspetos genealógicos e culturais que poderão abrir novas perspetivas de investigação. Na ocasião foi ainda mencionada a execução de um livro de Banda Desenhada que o Município de Oleiros está a promover, destinado a um público infanto-juvenil ou a criação de itinerários temáticos já implementados e em desenvolvimento.
Depois de ter sido destacado todo o empenho que o Município tem tido em destacar a sua figura histórica, o evento culminou com uma visita dos participantes pelo núcleo antigo da Vila, com um itinerário onde foi possível apreciar a arte dedicada ao padre jesuíta e locais evocativos das suas vivências em Oleiros, terra natal e onde residiu até aos 15 anos de idade.